22:15, ai.

Era para parar e recomeçar. Ela desajeitava seu cabelo de um jeito que fazia frio. O frio em seu pescoço dos cabelos que já não eram. Não eram, deixaram de ser alguma coisa bonita. Ondas douradas e brilhantes. Era eu que era. Eu em minha própria existência. Sangrando. Sangrando. Sangrando. Fazendo mais sombra do que existindo. Era para parar de parar. Era hora de recomeçar. Beber menos café e fumar menos cigarros. Mas o maço está na bolsa e o cheiro do café coado está entrando entre as leves aberturas e falhas da porta que faz um barulho. Faz um barulho porque o silêncio é intenso demais. Era para parar e se olhar. Se olhar como um único e último instante, porque depois de muito tempo escutando a mesma música que lhe deixava exausta de tanto sonhar, ela aprendia que 'pois é de Deus tudo aquilo que não se pode ver e ao amanhã a gente não diz.' Ela era pequena. E todos achavam que era grande e inteligente e madura e esperta demais. Mas quase nada sabia que o que ela sabia ela só sabia porque sabia que sabia sentir.

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